For who speaks in English, please read this book: http://arc-team-open-research.blogspot.com.br/2014/11/member-of-arc-team-receives-would-honor.html
Ontem foi uma noite muito especial. Tive a honra de receber a comenda Ênio Pipino, a maior honraria que um sinopense pode desfrutar. Vivo aqui desde 1987, é a minha terra, a cidade que me acolheu, a minha pessoa e a minha família e agora, simbolicamente me reconheceu. Agradeço aos vereadores Fernando Brandão e Dalton Martini, mentores intelectuais do projeto e ao vereador Fernando Fernando Assunçao que também tomou a palavra e a exemplo do Sr. Brandão proferiu um discurso que me deixou pleno de alegria e de honra diante de minha família e amigos que estavam lá presentes. Jamais esquecerei daquela noite e jamais poderei externar toda a minha felicidade e gratidão. Agradeço a presença da minha mãe Vanilsa Pagliari, minha irmã Elizangela Patrícia Pagliari, meu sobrinho Patrick Pagliari, o amore da minha vida, o brilho do meu olhar e a fonte de toda a infindável paixão que lateja em meu ser, minha noiva Lis Moura. Agradeço ao meu irmão de coração Daniel Douglas Ludwig, o amigo e repórter Jamerson Miléski, a repórter Danielle Vendrame, pela entrevista (e aos outros que lá estiveram). A Viviane Bulgarelli e Debora Malagutti pelo apoio. A todos os ilustres vereadores que votaram unanimemente pela aprovação. Meu muito obrigado!
Caros amigos,
Geralmente escrevo nesse blog assuntos que tangenciam áreas e interesses comuns de um número mais amplo de indivíduos. Hoje escreverei sobre um fato envolvendo a minha pessoa.
Sou natural de Chapecó-SC. Nasci em 1982 naquela paragem e vivi por lá e em cidades vizinhas até o ano de 1987, quando nos mudamos para um jovem município chamado Peixoto de Azevedo, no interior de Mato Grosso. Naquele mesmo ano meu pai faleceu em um episódio realmente triste e violento. Fomos para Sinop, que era a cidade onde mais se ofereciam possibilidades de trabalho para a minha mãe. Meu irmão e minha irmã eram muito novos (eu sou o caçula) então, arrumar o pão de cada dia ficou a cargo da minha mãe. Infelizmente, naquela época as diferenças de salariais eram muito cruéis com as mulheres e o que recebíamos mal dava para nos alimentar.
Voltando um pouco ao passado, até os meus 12 anos a minha realidade era muito parecida com aquela vivida pelos personagens do Chaves (El Chavo del 8). Eu me identificava com o protagonista, pois constantemente me encontrava com vontade de comer sanduíche de presunto… uma especiaria caríssima para mim. Além disso, ganhávamos poucos presentes, limitando-nos a comemorar quando minha mãe trazia um bom manjar ou mesmo, logo após o advento do plano Real, minha irmã apareceu em casa com uma TV a cores… uau! Além de ser colorida, tinha controle remoto! Outra pequena alegria que me lembro muito bem eram os momentos que eu chegava em casa depois de uma tarde vendendo picolés, trazia um de creme com sabor de leite condensado e deliciava-me ao som de uma fita K7 do Raúl Seixas.
O que de fato chacoalhou a minha vida e me mostrou como superar as coisas foi quando comecei a trabalhar como desenhista arquitetônico e consegui, com meu dinheiro e com a ajuda do meu padrasto, comprar um computador. Um Pentium 166 MMX. Naquela época a nossa realidade tinha melhorado bastante, isso em 1997-98 e eu podia me dar ao luxo de buscar um “significado para a vida”. Descobri nesse tempo que eu era um nerd. Nessa época eu me apaixonei por uma moça e diante de um retumbante NÃO! Me recolhi na minha insignificância em um quarto e vi que eu apreciava mesmo era produzir coisas.
O problema é que esse isolamento acabou despertando o início de uma síndrome de pânico. Eu comecei a temer a morte e me isolar cada vez mais. Até que um dia tive que ir a uma psicóloga. Fiz algumas sessões e aos poucos percebi que se quisesse viver com plenitude, deveria sim curtir minha nerdisse, mas era essencial estar no meio de pessoas, de me fazer visto e conhecido.
Foi nesse momento que me tornei um “nerd descolado”… pelo menos eu achava que era.
Apesar de ser mais “saidinho”, alguns anos depois de começar a namorar, fui novamente me entregando ao demônio do isolamento. Em 2006 recebi um convite para palestrar, mas como deveria viajar mais de 2000 Km e quem sabe… de avião… nossa! Tremi até a alma e declinei do convite.
Perto do final de 2006 um irmão por parte de pai que há muito não tinha contato com a família me enviou um e-mail propondo que nos reencontrássemos depois de duas décadas sem nos falar. Um dos meus irmão veio até Sinop e nos vimos depois de 19 anos. Foi tudo muito emocionante. O meu namorico acabou e de repente me vi livre, justamente no tempo em que esse meu irmão propôs uma viagem ao Sul, onde poderíamos encontrar o outro irmão, mentor intelectual dessa reaproximação (meu pai teve 10 filhos no casamento anterior, bem prolífico o velho!).
Chegamos a Chapecó, onde encontrei meu irmão Givanildo. Ele me propôs ficar por lá um tempo e eu aceitei, pois desejava conhecer melhor a terra onde eu tinha nascido. Nesse ínterim o professor Montanha, o mesmo que havia feito o convite para palestrar em 2006 renovou a solicitação e eu me comprometi a palestrar em Maringá.
Eu não comentei isso com muita gente, mas naquela época eu passei por grandes apuros, chegando a passar fome em algumas oportunidades, pois não contava uma entrada constante de dinheiro. A culpa evidentemente não é de ninguém, sempre fui orgulhoso nesse sentido e escondia das pessoas que estavam por perto que eu passava por dificuldades. A minha sorte é que constantemente eu era convidado a tomar café na casa de alguns bons amigos e eu aproveitava ao máximo a oportunidade para forrar o estômago e recarregar as baterias.
Chegou o grande dia da palestra e tudo correu muito bem. Tão bem que recebi convites, um atrás do outro. Eu poderia até dizer que hoje sou um palestrante profissional, diante de tantas atividades que participei desde aquela feita.
Acabei morando um tempo no litoral de Santa Catarina a convite de um cliente que desenvolvia novidades tecnológicas na área de publicidade… mas aos poucos foi me batendo uma saudade grande da minha família e da minha cidade. Até que eu decidi voltar.
Em 2009 voltei a morar em Sinop. Me senti tão bem, mas tão bem na cidade que me pareceu em alguns momentos ter raízes na planta dos pés, raízes que me prendiam a este solo.
Nesse ano conheci a minha noiva Lis Moura. Começamos a namorar e tudo correu tranquilamente até o começo de 2011, quando meus pais sofreram um assalto e eu cheguei na casa deles no momento do ato. Acabei entrando “na festa” e fiquei por duas horas sob a mira de dois revólveres.
Depois de um tempo eles decidiram me soltar para que fôssemos até o banco sacar um valor. Mas como não havia nem o valor e se houvesse os caixas não soltariam mais do que o limite padrão… eles ameaçaram matar a todos. Fiquei desesperado na hora, mas respirei fundo e pensei. Coloquei na minha cabeça que se eu tivesse uma chance de salvar a minha família eu morreria, mas entregaria a liberdade para eles. Isso acabou acontecendo, quando meus pais ficaram na direção da porta de saída da sala de jantar e os assaltantes… os dois, apontaram as armas para mim temendo que eu reagisse. Naquele momento pulei nos dois. Tudo ocorreu em câmera lenta e meu cérebro guiou meus movimento para que eu mantivesse os dois ao chão e permitisse que a família buscasse socorro. Em um momento um deles apontou o revólver para o meu rosto e eu me abaixei, dando tempo de tirar a face da rota do tiro, que pegou de raspão na minha cabeça. Para encurtar a história, os dois fugiram e nos livramos de uma carnificina familiar.
Naquela noite festejei bastante tomando um whisky de 12 anos trazido por um amigo (com dois pontos na cabeça por conta da bala que pegou de raspão). O problema foram os dias que se seguiram. Eu fiquei extremamente deprimido e a síndrome do pânico voltou. Fiquei praticamente trancado em casa por 15 dias, tendo taquicardias constantes e temendo a tudo e a todos. Durante o assalto os ladrões se deslocaram para a minha casa que estava próxima e levaram meu PC com quase 5 minutos de uma curta em 3D pronto para ser finalizado. Como eu não havia feito um backup externo perdi todo o trabalho e aquilo aumentou ainda mais a minha dor.
Decidi então buscar outra área para estudar e escolhi a de reconstrução facial forense. Esses estudos me ajudaram a sair da depressão e a ser feliz com minhas nerdisses. Enquanto estudava eu aproveitava para compartilhar conhecimento e contatar especialistas e eventuais interessados em projetos relacionados a essa área. Em 2012 conheci o pessoal do Arc-Team da Itália que se tornaram parceiros de pesquisas e também clientes. Conheci o Dr. Paulo Miamoto que me apresentou à odontologia legal brasileira e se tornou um grande amigo. Recebemos prêmios em eventos da área, fechamos projetos importantes como a reconstrução facial de Santo Antônio e tantas outras coisas que não caberiam aqui sem acabar com a paciência de quem está lendo.
Enfim… pensei em tudo isso no momento em que o vereador Fernando Brandão me informou que havia proposto a honraria à minha pessoa na Câmara dos Vereadores de Sinop tendo o vereador Dalton Martini com co-proponente do documento. Sem que ninguém visse eu me recolhia em um canto quando sozinho e deixava as lágrimas correrem dos meus olhos. Lágrimas de alegria e gratidão. Lágrimas de lembrança e de nostalgia. Na noite da votação eu me segurei bastante quando o senhor Brandão e o Sr. Fernando Assunção proferiram algumas palavras sobre a minha pessoa. Ver minha mãe, meu sobrinho, minha noiva e meu grande amigo Daniel Ludwig partilhando daquele instante não teve preço.
Me desculpe caro leitor, se esse post parece muito pessoal, mas não é. Ele também é seu. Essa comenda pertence a todos os nerds do Brasil e do mundo. Pertence a todos aqueles que apreciam o software livre… pertence a todos aqueles que compartilham informação. Pertence a todos aqueles que acreditam no próximo e que vêem nas pessoas um grande potencial.
Eu acredito nas pessoas, eu acredito que elas podem conquistar grandes vitórias. Apesar de vitória, para muitas pessoas, hoje em dia se resumir a ganhos pecuniários, o fato é que o maior dos troféus é a capacidade que um indivíduo tem de abrir a sua vida a suas próprias inspirações. Depois que ele se tornar um grande vencedor em seu próprio mundo, derrotando seus fantasmas, demônios e distrações… aí sim ele estará apto a transbordar essa alegria tangenciando a quem possa interessar. Agradeço aos vereadores de Sinop que permitiram que uma alegria pessoal se convertesse em uma honraria para uma classe… a dos nerds.
12 de novembro de 2014.
Lindo relato Cícero. Torço para que você sempre encontre inspiração para continuar esse trabalho maravilhoso e tão precioso para todos. Um grande abraço!
Parabéns Nerd Comendador!!! Quando eu crescer, quero ser um “squint” igual a você!!! Todo o sucesso do mundo, você merece! =D
Entendo perfeitamente seu motivo de gratidão e exaltação. Saiba que eu te prezo muito e por isso posso garantir-lhe humildemente que Deus o tem abençoado para ser e ter o que melhor o representa. Parabéns pelo esforço, dedicação e por compartilhar conosco esta vitória. Seu amigo Nerd, Luis Retondaro.
Oi Cicero! Tive a oportunidade de assistir a uma palestra sua em Maringá e desde então acompanho seu trabalho.
Acho que esse ato de reconhecimento é mais do que merecido! Meus sinceros parabéns!
Oi… sou seu fã a muito tempo (quando vi informações suas sobre o Blender 3D, sou de Cuiabá-MT) e agora mais ainda por saber que compartilha conosco seus feitos. Parabéns e continue nos brindando com seu conhecimento.
Vencedores nao aparecem ao acaso. Vencedores trabalham duro, muito duro em todos os aspectos; desde a busca de conhecimentos relevante ao trabalho ate a auto disciplina para manter a mente emocional estavel a fim de focar num objetivo. O Vencedor aprende com as dificuldades oque os tornam ainda mais fortes. Os verdadeiros Vencedorer se tornam a cada dia que passa pessoas mais humildes e com mentes e coracoes abertos.
Cicero: Toda vez que leio qualquer coisa vindo de voce vejo sinais evidentes que voce eh um verdadeiro Vencedor.
Cara, que história de arrepiar de emoção. Além de escrever muito bem, você tem muito conteúdo, muita bagagem, mesmo contando resumidamente sai um texto bem recheado. Em nossas conversas, só falávamos de coisas boas, eu não imaginava que você passava por estas dificuldades. Porém, o caminho sofrido torna tuas conquistas ainda mais admiráveis. Parabéns pela homenagem, que é muito merecida, e continue este cara simples e indestrutível.