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Em reconstrução facial as informações mais seguras são aquelas obtidas através das tabelas de espessura de tecidos moles. Elas são levantadas a partir da mensuração da distância entre o extremo da pele, passando por músculos, gorduras e demais tecidos moles até o osso em pontos específicos distribuídos ao longo da cabeça cabeça e que em média variam de 21 a 33, dependendo do protocolo utilizado. Essas espessuras podem ser obtidas de pessoas que morreram há pouco ou mesmo de indivíduos vivos através de ultrassom ou tomografia computadorizada.
E para que serve essas medidas na reconstrução facial? Muito simples, elas funcionam como referência, para o artista ou cientista que usa esses pontos para fazer uma “engenharia reversa”, pois a partir dos ossos do crânio podemos achar quanto havia de tecido mole em pontos específicos e com isso aproximar estatisticamente a volumetria da face daquele indivíduo.
O problema surge quando lidamos com casos que não apresentam tabelas de profundidade de tecido, como por exemplo os nossos ancestrais hominídeos. Como fazer o levantamento em seres que já estão extintos há milhares e/ou centenas de milhares de anos?
Para contornar esse problema pensei em uma solução conceitualmente simples, mas que cobra uma certa habilidade para ser aplicada. No caso dos hominídeos que parecem mais com o homem moderno, como os neanderthalensis, rhodesiensis e pekinenensis nós podemos usar as tomografias de homens modernos, filtrar a pele e o crânio e em seguida deformar a o crânio e a pele, até que o crânio do homem de adeque ao crânio do hominídeo. É claro que a pele é jogada em outro layer para que a visualização dela não atrapalhe nos trabalhos e ao mesmo tempo, permita que o foco fique restrito apenas aos crânios que enfim, trata-se da única peça ainda completa do que foi aquele animal.
No caso de outros hominídeos como o Paranthopus boisei, Homo habilis, Australopithecus afarensis e afins, nós aplicamos o mesmo processo, mas usando como objeto de deformação a tomografia reconstruída de um Pan troglodytes.
Até aí tudo bem, era evidente que se tratava de uma saída engenhosa… mas teria validade? Seria aquela deformação compatível com a volumetria do hominídeo em questão?
Para responder a essas questões me apoiei no argumento do arqueólogo Luca Bezzi, apresentado durante uma reunião em que participamos na Itália, em ocasião dos preparativos para a mostra FACCE, il molti volti della storia umana. Bezzi propôs uma experiência simples e interessante… segundo ele, se o método fosse válido, em tese poderíamos converter um chimpanzé em um gorila (Gorilla gorilla) e vice-e-versa. Achei aquela proposta fantástica e decidi efetuá-la assim que voltasse ao Brasil.
Para conseguir um gorila, recorri ao banco de dados de tomografias do KUPRI, o instituto de pesquisas de primatas da universidade de Kyoto, Japão (PRICT 296) Apesar de estar com a “boca aberta” me parecia um bom modelo aquele que encontrei, pois a cabeça estava completa e se tratava de um indivíduo adulto, assim como o chimpanzé usado como objeto de deformação.
Apesar de parecerem a mesma criatura numa primeira olhada, existem muitas diferenças estruturais entre um chimpanzé e um gorila. Ao adequar o crânio do primeiro usando o segundo como referência, fiquei bastante ansioso em ver o resultado final. Mesmo parecendo uma solução inteligente e bem pensada, ao efetivar um teste com esse rigor e com a necessidade de se chegar a um resultado pré-determinado, confesso que temi cair nos braços do fracasso.
Ao terminar os ajustes e ligar o layer que continha a pele do chimpanzé já deformada atestei que a metodologia havia alcançado um elevado grau de compatibilidade. Ainda estou devendo o teste com o gorila deformado… mas isso deixarei para outro momento em que o tempo livre me permitir. Por ora degustarei demoradamente a alegria que essa experiência me proporcionou.
Um grande abraço!