For who speaks English, please see this link: http://arc-team-open-research.blogspot.com.br/2014/04/the-andean-child-and-happy-mummys-day-3.html
Tão pequenina e frágil que temi pegá-la nos braços. Envolta em um manto de plástico bolha e cheia de sílica para que não sofresse os efeitos da umidade, ela se encontrava em um cantinho do Museu Egípcio e Rosacruz, cercada de cuidados e discrição por parte dos curadores.
A conheci em maio de 2013 quando participava de um evento no museu. Na oportunidade não pude dar muita atenção à pequena, pois naquele momento a estrela era a múmia Tothmea. Estávamos apresentando a egípcia ao grande público e à imprensa. Mesmo assim, a criança andina entrou nos tópicos das reuniões e ficou mais ou menos combinado de que o museu se mobilizaria para obter a tomografia computadorizada daquele corpinho cingido de importância histórica e muito mistério.
Meses depois, soube que um grupo do IFPR ligado ao curso de Radiologia, estava desenvolvendo um trabalho com a múmia andina. Rapidamente entrei em contato com a profa. Marinei Pacheco e sua aluna Priscila Lopes. Elas acompanharam a tomografia de corpo inteiro da pequena e estavam trabalhando nos dados para que pudessem com eles, dentre outras coisas, chegar à idade da dela quando ela morreu.
Eu me encontrava em São Paulo quando recebi os arquivos da tomografia. Tinha mil coisas para fazer, mas tive que esquecê-las por um tempo, pois fiquei extasiado com o que vi. Sentado na escrivaninha do hotel, reconstruí a tomografia em 3D. Inicialmente apareceu o corpo de um criança muito nova. Ao regular a intensidade da transparência, os ossos se revelaram. Dava para ver até as pequenas esferas de sílica. Me chamou a atenção algo que circundava o bracinho diminuto da múmia, um pequeno bracelete que não percebi num primeiro momento.
Ela estava em uma posição quase fetal, ocultando a face e com as perninhas dobradas. Involuntariamente comecei a imaginar como teriam sido os dias daquela criança. O que a teria levado a perder a vida? Como seus pais lidaram com aquilo? Em que parte dos Andes ela habitou? As perguntas muitas, mas as respostas escassas.
Assim que voltei para o Mato Grosso, pus-me a reconstruir aquela face. Aos poucos apareceu o semblante de uma linda menininha, com os dentinhos levemente pronunciados. Decidi configurar um doce sorriso naquela face, para imortalizar um momento de alegria durante sua breve vida.
A pequena se foi há muito, fico triste ao ver esqueletos de crianças, mas dessa história lúgubre surgiram novas amizades. Quando a Priscila finalizou os trabalhos relacionados a radiologia, ela publicou no Facebook uma foto com o painel científico descrevendo o processo. Nos agradecimentos ela citou uma frase, colhida do post onde explanei a reconstrução de outra criança, na verdade de um bebê… o bebê múmia de St. Louis. Fiquei extremamente honrado de feliz naquela oportunidade. As crianças se foram, os que aqui estão cooperaram e as reconstruções vão se encontrar em uma mostra sobre a infância na antiguidade. A pequena múmia andina, depois de centenas de anos terá muitos amiguinhos ao seu lado.
Voltando ao Feliz Dia da Múmia! há alguns dias recebi os bilhetes aéreos por e-mail e rapidamente comecei a separar as imagens para compor os slides que serão apresentados na mesa redonda onde discutiremos o projeto. Depois de tanto tempo mexendo com isso ainda fico inspirado e ansioso para que o dia chegue logo e eu possa mostrar aos espectadores as etapas da modelagem. Mais do que ansioso por apresentar, também estou em relação ao que os outros integrantes vão mostrar. Será a primeira vez que participarei de um acontecimento onde todos os pesquisadores que desenvolveram o processo vão falar de sua parte compondo um cenário completo de como as coisas se efetivaram.
Essa mistura de pontos de vistas e atuações diferentes certamente irá fluxionar esse quadro de experiências para um novo e excitante projeto onde a ciência será a maior beneficiada.
Esperemos o dia 17/05 e se você leitor conhecer alguém em Curitiba, por gentileza informe a essa pessoa sobre o evento, além de ser interessante a entrada é gratuita.
Local: Auditório da Ordem Rosacruz, AMORC (Rua Nicarágua, 2620 – Bacacheri).
Tel.: (41) 3351-3024 ou cultural@amorc.org.br
Mais informações: http://www.amorc.org.br/noticia–16.html
Um grande abraço!
maravilhoso trabalho!!!
Estupendo. Um trabalho meticuloso, magnífico e único. Sem palavras para tamanho empenho em contar a história daquelas pessoas, que habitavam a Terra da forma arcaica e pré histórica. Eles tinham uma vida. Essa é a consciência que um projeto desses, me faz ter.