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Antecedentes
No ano de 2013 visitei o Museu Paranaense junto ao Dr. Moacir Elias Santos. Naquela oportunidade eu estava em Curitiba para apresentar a face de uma múmia andina, em razão do II Feliz Dia da Múmia.
O Dr. Moacir havia me dito que eu me surpreenderia riquíssimo acervo do museu. De fato me surpreendi, a cada sala pude mirar peças e mais peças, que juntas compunham um painel histórico, não apenas do estado do Paraná, mas do Brasil e até de outros países.
Depois de deslumbrar-me com vestimentas antigas, quadros, moedas e infográficos, chegamos a uma sala, onde estava sendo apresentada a ossada de uma criança indígena de algumas centenas de anos.
Não perdi tempo e tomei uma série de fotografias do crânio, já com o intuito de digitalizá-lo em 3D e posteriormente reconstruí-lo.
Assim que retornei ao Mato Grosso, foi justamente o que fiz. Mostrei o trabalho ao Dr. Moacir que apreciou, mas pediu-me que contactasse os responsáveis pelo museu, para que aqueles soubessem acerca do trabalho que eu estava fazendo, afinal, eu não havia acordado com eles o uso das imagens.
Liguei ao museu, expliquei a situação e me repassaram a Dra. Claudia Parellada. Desfazendo os meus temores iniciais, que previam um quadro dominado pela coerção, ela se mostrou interessada na ideia da reconstrução e não apenas permitiu que eu publicasse o trabalho no meu site, como levantou a possibilidade de edificarmos uma parceria, posto que ela contava com outros crânios, alguns deles com mais de mil anos de idade.
O projeto de reconstrução facial
A história não pára por aí. Em 2008 viajei Curitiba pela primeira vez a convite do meu camarada Alessandro Binhara, para palestrar sobre Blender e computação gráfica na instituição de ensino que ele trabalhava naquela feita. A palestra foi dada e combinamos de um dias fazermos uma parceria em um projeto.
Nove anos se passaram e a oportunidade começou a se esboçar. Fechei um workshop interno com o Binhara, o pessoal da empresa Beenoculus e com o meu outro camarada, o desenvolvedor Sandro Bihaiko. O plano era juntar uma série de especialistas e estudar algumas aplicações utilizando realidade virtual e aumentada.
Nesse ínterim me dei conta que era uma boa oportunidade para retomar as conversações com a equipe do Museu Paranaense e voltei a falar com a Dra. Claudia Parellada e o Dr. Renato Carneiro, diretor da instituição.
Soube então, que eles contavam com um rico acervo de crânios e dentre eles, despontava Gufan, um autóctone proto-Jê de 2000 anos. O nome Gufan vem do idioma Kaingang e significa “antepassado”. Pela integridade da peça anatômica ela se mostrou a mais apta a ser reconstruída.
A Dra. Parellada e o Dr. Carneiro levantaram todos os dados acerca do Gufan, bem como me enviaram uma série de fotos que serviram como base para a digitalização 3D pela técnica de fotogrametria. Em pouco tempo eu tinha o crânio digitalizado e os trabalho de reconstrução iniciaram.
A reconstrução facial
O processo de reconstrução facial correu tranquilamente sem nada de novo em relação aos outros trabalhos. A começar pelo posicionamento dos marcadores de espessura de tecido mole, depois passou pela escultura digital, retopo (simplificação da malha), mapeamento e pigmentação e finalmente a colocação dos cabelos e geração das imagens.
Há de se documentar que recebi as referências de mapeamento com um sabor internacional. O meu camarada Santiago González fotografou um de seus aluno lá em Lima, Peru e enviou uma série de imagens para que fossem usadas no trabalho. Aproveito a ocasião para agradecer a ele e ao aluno!
Tive que recorrer a essa saída pois aqui em minha cidade eu não contava com nenhum indivíduo com traços indígenas para tomar imagens. Pensei um pouco e recorri aos meus amigos peruanos, posto que naquele lindo país, parte considerável da população carrega a aparência do seu povo histórico e guerreiro.
A Realidade Virtual
Com a face de Gufan reconstruída viajei até Curitiba onde me reuniria com a equipe para efetuar o nosso projeto. Os trabalhos se deram nas dependências da Beenoculus, uma empresa de montagem de óculos de realidade virtual e conteúdo interativo.
A empolgação foi tamanha, que o nosso workshop se resumiu a criar uma apresentação para o Gufan. A Beenoculus cedeu um óculos de última geração, o meu camarada Binhara entrou com maquinário de ponta, com uma generosa placa de vídeo para que a aplicação rodasse sem engasgar e o Sandro Bihaiko escreveu a aplicação com o auxílio dos funcionários locais.
Enquanto a apresentação era desenvolvida de um lado, nos deslocamos até o Museu Paranaense para ver se estava tudo certo com o espaço onde seria realizada a revelação. Um painel foi montado ilustrando as etapas da reconstrução facial, conversamos acerca da distribuição dos elementos e assentos e tudo ficou certo, bastava esperar o grande dia.
A apresentação da face
A apresentação da face do Gufan foi realizada no dia 24 de janeiro de 2016. Inicialmente esperávamos de 20 a 30 pessoas, mas eu articulei uma aproximação com a imprensa de modo a suplantar esse número sem muitas pretensões, evidentemente.
Antes de viajar a Curitiba compus um release com o pessoal da tecnologia digital e a gerência do Museu Paranaense. Também telefonei para várias TVs e jornais da cidade e logo de cara o maior jornal (Gazeta do Povo) e a maior TV (RPC, Globo) mostraram-se interessados na pauta.
O resultado de tudo isso se traduziu em duas capas de jornal e uma matéria de 7 minutos com duas inserções ao vivo na edição do meio dia de 24 de janeiro.
E durante a apresentação, no lugar de 20 ou 30 pessoas, vieram 170 segundo os organizadores! Muita gente teve que assistir as duas palestra de pé. Sucesso total!
Agradecimentos
Só me resta aqui agradecer a todos que tornaram esse acontecimento possível: Claudia Parellada, Renato Carneiro, Alessandro Binhara, Sandro Bihaiko, Anelise Daux, Junior Evangelista Terrabuio, Rawlinson Terrabuio, Matheus Dalla, Victor Ullmann, Amilton Binhara, Adelina Binhara, Lucas Gabriel Marins, Durval Ramos, Angieli Maros, Fernanda Fraga, Keyse Caldeira, Caroline Olinda, Everton da Rosa e Karen Lisse Fukushima.
Não esquecendo de citar as empresas e instituições envolvidas: Museu Paranaense, Azuris, Beenoculus, Secretaria do Estado da Cultura do Paraná, Governo do Paraná, Arc-Team Itália e toda a imprensa.
Espero do fundo do coração que essa parceria continue e que boas notícias o futuro nos reserve. Um grande abraço e grato pela leitura!
Valeu Cicero parabens grande abraço