Passei quinze dos meus trinta anos em uma vida de severa privação pecuniária. Minha família, apesar de ser pobre era bastante unida e sempre deu apoio à minha educação. Lembro-me que a minha mãe trabalhava como cozinheira e zeladora, e com os poucos recursos que levantava conseguiu me matricular em uma escola particular, onde cursei a primeira série. Já na segunda série eu tive de voltar à escola pública, pois o dinheiro que já era parco, tive de ser remanejado para a nossa alimentação e moradia. Vivíamos mudando de casa e não contávamos com muitos móveis nelas. Tomávamos as geladeiras dos vizinhos emprestada para deixar a pouca carne que comprávamos. As TVs que possuíamos eram da linha “preto e branco”, e um dos meus grandes prazeres era assistir aos comerciais, onde pomposas casas despontavam na tela, passando a imagem de fartura nutricional, riqueza material e acesso à tecnologia.
Acesso à tecnologia… essa era a obsessão que eu nutria na tenra idade. Seja pelo fato de possuirmos pouquíssimo dinheiro na época, ou pela tecnologia não ser algo popularizado como hoje, raras vezes eu tive acesso a equipamentos, livros ou material que me desse a oportunidade de aprender e desenvolver algo interessante.
Aos quinze anos comprei meu primeiro computador (trabalho desde os 8) com a ajuda da família e em alguns anos me tornei um nerd convicto. A falta de acesso à tecnologia, que norteou a minha juventude seria então vingada… eu jurei a mim mesmo compartilhar o o que quer que eu aprendesse e desenvolvesse, para que o mundo não fosse composto por uma turba inerte na frente de uma TV, mas sim, de pessoas com conhecimento ao alcance das mãos, se tornando seres melhores e ao mesmo tempo repassando ao próximo os dividendos intelectuais de suas vitórias, formando assim um círculo virtuoso.
Não é difícil, depois de ler esse breve relato, entender a imensa honra, alegria e emoção que tomou conta do meu ser ao assistir a votação de uma Moção de Aplausos oferecida à minha pessoa, no dia 12 de Agosto de 2013, na Câmara dos Vereadores do município de Sinop-MT.
A Moção, engendrada pelos vereadores Fernando Brandão (PSB) e Fernando Assunção (PSDB) foi aprovada por unanimidade. Antes da votação um vídeo com um compacto de vários trabalhos desenvolvidos de modelagem e animação foi apresentado aos presentes.
A motivação da honraria, segundo os mentores dela, era de que os trabalhos de reconstrução facial forense com software livre estavam projetando o nome da cidade no cenário nacional e internacionalmente, tanto no campo artístico quanto no científico.
Fiquei extremamente feliz pelo ocorrido e não poderia deixar de agradecer aos vereadores Brandão e Assunção, por terem o trabalho de colocar a pauta em votação na 24º Sessão Extraordinária. Ambos ainda proferiram algumas palavras que me encheram de alegria, seguidos pelo vereador Ademir de Bortoli.
Tweet: https://twitter.com/intent/favorite?tweet_id=369038183553458181Julgo que essa honraria é emblemática e pertence a todos os nerds, que usam ou não o Blender. Pertence às pessoas que são partidárias do software livre e que criam conteúdo de modo a compartilhar informação sem se importar em “entregar o ouro”, afinal, quem entrega o ouro do conhecimento, recebe os diamantes da honra.
Um grande abraço a todos!
“Entregar o outro” para bens não-escassos equivale a multiplicá-los! A sociedade fica muito mais rica no final. Parabéns!
Meus parabéns Cicero, pela moção, mas principalmente pelo empenho em compartilhar tudo o que aprendeu de maneira árdua. Facilitar o caminho de muitos faz de ti um ser humano nobre. Poucos doam conhecimento ainda que saibam de sua extrema importância. Mantenha-se sempre meu amigo, “sobre o ombro de gigantes” e em seu ombro carregando futuros e prováveis gigante.