Homo floresiensis (parte 1 de 2) – Modelagem do crânio

For who speaks English, please see this link: http://arc-team-open-research.blogspot.com.br/2013/03/homo-floresiensis-3d-forensic-facial.html

Há algum tempo veicularam na mídia a reconstrução facial forense do hobbit de Flores, ou Homo floresiensis.

Você pode estar se perguntando, o motivo de eu estar fazendo uma reconstrução mesmo já existindo uma já celebrada apela mídia? Pois bem, a resposta é: estudo. Pretendo estudar e incrementar a exposição que será feita acerca da evolução humana, onde vou participar com as reconstruções faciais.

Etapas do processo de modelagem do crânio de um H. floresiensis

 Inclusive, o que me motivou a modelar esse hominídeo foi justamente uma crise de abstinência de 3D que me acometeu assim que eu terminei o Homo habilis, mostrado no post anterior.

Ao fazer uma busca por tomografia pela internet, acabei chegando a esse endereço: www-personal.une.edu.au/~pbrown3/ onde pude baixar dois vídeos com visualizações ortogonais (sem deformação de perspectiva) do crânio do hobbit de Flores.

Para converter o vídeo em uma sequência de imagens utilizei o seguinte comando:

$ffmpeg -i arquivo_de_video.m4v -sameq diretório_de_destino/%04d.jpg

Apesar de não terem a deformação de perspectiva, eu alimentava uma pequena esperança de escanear o crânio utilizando o Python Photogrammetry Toolbox. Infelizmente a resultado não cobriu toda a superfície, mas depois acabou servindo como referência para modelagem, como você veremos adiante.

Depois do fracasso da tentativa de escanear, decidi testar uma ideia que pululava na mente nos últimos dias. Depois que lí acerca de tomografias conebean (obrigado pela dica Rhonan!) acabei compreendendo um pouco do funcionamento geral dessa tecnologia. Imaginei que se eu tivesse uma série de raio-X ou mesmo uma série de imagens de um objeto mostrando as suas arestas, eu poderia, pelo menos hipoteticamente reconstruí-la em 3D… desde que essa sequência fosse de imagens sem distorção de perspectiva, exatamente como as desse artigo!

Com a ajuda do vetorizador de bitmaps do Inkscape (Shift+Alt+B) converti uma série de 11 imagens em vetoriais com as arestas do crânio.

Ao importar no Blender os desenhos vetoriais vem separados e já com a cor escolhida anteriormente.

Bastou organizá-los e rotacioná-los a 9 graus para que cada um tomasse seu lugar. Veja que já é possível ver uma projeção do que será o crânio, ainda que só tenha a metade dos dados.

Foi feito uma conversão de linha (característica dos desenhos vetoriais importados), para malha com o comando Alt+C e posteriormente extrusado e levemente rotacionado ao centro.

Em seguida, os filetes foram espalhado no eixo X com o comando Alt+M.

Veja que a despeito de não ser um escaneamento detalhado, pelo menos num cotexto geral podemos ver a forma do crânio. A vantagem desses passos foi a de gerar um elemento de ignição de modelagem.

Com a ajuda do modificador Remesh foi possível converter a malha em um objeto fechado, sem as aberturas que o desqualificam para a impressão 3D, por exemplo.

Em seguida foram selecionadas algumas imagens como referências.

Foi necessário fazer pequenas edições na malha para que ela se adequasse as referências, deixando tudo pronto para começar o processo de sculpting.

Inicialmente foi esculpido o básico do modelo, como os olhos, a linha dos dentes e a abertura do nariz. Ao mesmo tempo foi colocada mais uma imagem de referência.

 

Eu não havia falado da tentativa frustrada de escaneamento? Ela não foi tão frustrada assim, veja que boa parte da face fora reconstruída (para alaranjada).

Ela serviu para guiar-me na modelagem daquelas regiões, bastou usar os pontos como referência.

Veja que já começam a aparecer detalhes mais rebuscados de entalhe, como as rachaduras laterais.

As rachaduras foram traçadas usando como referência as imagens do background, garantindo uma modelagem bastante compatível com o modelo tomografado.

Ao final já eram cinco imagem de referência. Veja que a modelagem faz um traçado quase perfeito com elas.

Esse número elevado de referências possibilitou o detalhamento da parte inferior do crânio, como pode ser visto aqui, no início do entalhe do forame magno.

Assim que as linhas mais visíveis foram traçadas, o processo de entalhe se deu por finalizado.

Utilizando as imagens de referência e projetando-as na malha, foi possível criar uma textura que envolver o crânio completamente.

OBS.:Para que o processo de texturização pudesse ser feito tranquilamente, ao invés de remodelar o objeto com a técnica de Retopo, eu apenas simplifiquei-o com o Remesh.

A textura criada ainda foi utilizada em um modificador chamado Displacement, que projeta as áreas mais claras da imagem para fora e as mais escuras para dentro, criando sulcos mais realistas na malha em questão.

Com essa fase finalizada também terminei a modelagem do crânio. Fiquei bastante contente que a minha ideia de “tomógrafo manual” tenha funcionado, viabilizando uma modelagem rápida e me premiando com mais uma peça para aplicar uma reconstrução facial forense.

Em breve postarei o resultado desse trabalho (veja a parte 2 de 2 aqui: http://www.ciceromoraes.com.br/?p=1056)

Até lá e um grande abraço!

 


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